quinta-feira, 26 de julho de 2012

O NORDESTE, TERÇA-FEIRA, 1º DE JULHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XV)
Na Escola Militar do Rio
J. Paiva
Escola Militar do Rio de Janeiro,na Praia Vermelha. em foto de 1885.
Cobria todo o espaço entre o morro da Urca e o Pão de Açucar
( Imagem: Jornal do Brasil - Internet). 
Frente e verso, da Medalha Milagrosa (Fonte : Wikipédia)
Catarina Labouré: 1806- 1876..."Caixão de vidro com o corpo  
incorruptível de Santa Catarina Labouré" (Fonte: Wikipédia).
Os caminhos, entre o Colégio da Imaculada Conceição e a Casa Velha
do Outeiro, da família Oliveira Paiva, eram feitos entre mangeronas... 
.
...pinhões...
...melões de São Caetano (fechados)....
...( abertos)....
... em flor...
...jitiranas...etc...(imagens: google)
Luis Alves de Lima e Silva ( 1803- 1885) ,
o Duque de Caxias...
Família Imperial do Segundo Reinado, por volta de 1870. Da esquerda
para a direita o Conde d'Eu, Dom Pedo II, Dona Tereza Cristina e a
Princesa Isabel.. Foto de Alberto Henschel. (Wikipédia).
Princesa Isabel (foto: Wikipédia)
A Princesa Isabel  com o bisneto, Pedro Henrique.
(Wiikpédia)
Antônio Gonçalves de Oliveira Junior (Dom Vital)
1844-1878, Bispo de Olinda (Wikipédia).
Dom Antônio de Macedo Costa (1830-1891)
Bispo do Pará. (Wikipédia).
Instituto Militar de Engenharia. O IME fica localizado na Urca, Zona 
Sul carioca, mais precisamente na Praia Vermelha, ao lado da estação
do Bondinho do Pão de Açucar. Neste mesmo local funcionou a Escola
Militar do Rio de Janeiro(1ª foto), onde estudou Manoel de Oliveira Paiva.
(Foto: google)
Nesta foto, vê-se, à esquerda, parte do IME, tendo ao fundo, o
morro da Urca com a estação do bondinho, vendo-se o teleférico
subindo para o Pão de Açucar. (Imagem:: google).
Imagem belíssima, onde se tem, numa visão aérea, a Praia Vermelha,
Rio de Janeiro,em primeiro plano, vendo-se o IME, o morro da Urca  
e, do outro lado, ao fundo, toda a extensão da Praia de Copacabana 
 e, bem à direita , a Pedra da Gávea...bem distante...OBS: este morro,
à direita, em primeiro plano, aqui pertinho, é o PÃO DE AÇUCAR...

Manoel de Oliveira Paiva, com o seu caráter muito temperado de altivez e dignidade, não soubera suportar, com sacrifício de  sua reputação, a disciplina que o Reitor do Seminário  do Crato, à falta de provas em contrário, quisera aplicar-lhe injustamente. E agora, com o assomo apenas em tese permitido, de ambição e liberdade, que os seus 15 anos não autorizavam, ia magoar mais uma vez o coração materno, que fazia pouco mais de um ano sangrara ao ver o filho idolatrado voltar do Crato, perdida no abismo de sua confusão e de seu desespero, a vocação sacerdotal, porém já então sossegado, cicatrizada que estava ficando a ferida.
Meus tios Manoel e João, apegados ao Colégio das Irmãs de Caridade, armadores da Gruta, fabricadores de "bougies" ou lanternas para as procissões  e coroações de Maria, às quais Irmã Gagné, braço direito da Irmã Bazet, dava todo o 
tom francês daquela época, em que ainda vivia a Medalha Milagrosa, Irmã Catarina Labouré,  serviam  também como sacristãos na missa do Padre Chevalier, a um pulo da Casa Velha, através de caminhos feitos entre matapastos, mangeronas, salsas, pinhões, primaveras, melões de São Caetano, jitiranas, etc., onde daí a dois ou três anos surgiram algumas cetenas de palhoças na Grande Seca, entre o Colégio e a Casa Velha e o açude do Pajeú, que futuramente apenas será lembrado  devido ao Edifício que tem esse nome...


Dois primos, um da linha colateral e o outro da linha direta, José Freire Bizerril Fontenele e Vicente Osório de Paiva, tinham anteriormente assentado praça no Exército  e ingressado na Escola Militar, isso a 2 de janeiro de 1871, segundo o douto Barão de Studart e já em 1876 eram alferes-alunos.  Oliveira Paiva não se conformava com a vida medíocre, sem destino certo, pobre e, como era a família, num meio provinciano, onde já se verificava, em ponto pequeno o desenrolar da trama da Comédia Humana, de Balzac, pois algo de elevado o impulsionava para rumos incertos. Também seria soldado, ocuparia no Exército o altar da Pátria, o lugar que perdera irremediavelmente no altar da Igreja, quando mais quando, naquela época, o Clero Brasileiro era forçado a ficar como  que atrelado ao carro do Estado, apenas tendo em seu favor o providencial critério na escolha dos Bispos, feita pela vontade de um dos mais notáveis Soberanos da História, Dom Pedro II, que era meio aos caprichos e vaidades que muito o prejudicaram, lamentavelmente fora enredado no labirinto da Questão Religiosa, assim cerceando ao meio de sua incontestável ascendência pessoal e o admirável equilíbrio de suas decisões e assuntos do fôro da consciência...  As Lutas da independência, a consolidação do  Império e a glória que o Brasil conquistara na defesa dos Povos do Sul, contra os Ditadores tiranos e, enfim, a Guerra do Paraguai tinham formado uma legião de soldados cheios de cicatrizes, galões e títulos nobiliárquicos.  Não seria melhor a nova carreira do amanhã tornar-se Bispo, preso e condenado se quisesse exercer sem óbices o poder espiritual?  Alí estava o glorioso Duque de Caxias que, pela mão da Princesa Isabel, fizera o Imperador anistiar os Prelados de Olinda e do Pará.


Seu tio materno, Antônio Pereira de Brito Paiva, o animara a alistar-se como voluntário do Exército, garantindo-lhe que chegado ao Rio de Janeiro, obteria por seu prestígio político a matrícula na Escola Militar.  Foi isto em fins de 1876, quando partiu a informar à pobre mãe sua inopinada resolução, esta cujo coração já se acalmara pela conformidade cristã, reprovou-lhe o gesto impensado, temendo por ele devido à sua debilidade física e ao risco que correriam sua fé e seus bons costumes, ao recordar ela certa noite em que ele não aparecera na hora de recolher, compreendeu que cumprira sua intenção. Abandonando provisoriamente a casa, foi refugiar-se numa mais próxima. Ao vir despedir-se meu tio, dias após, não encontrou minha avó e mesmo assim embarcou, lamentando não poder abraçá-la e beijar-lhe a mão, pois ela tinha teimado em não querer mais vê-lo, somente voltando para a Casa Velha quando ele tivesse partido, julgando talvez que isto fosse o bastante para fazê-lo retroceder. Era o seu coração, pressago de mãe que adivinhava o futuro do filho, pois, como diz o rifão, o coração de pai não se engana e o de mãe muito menos... 
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- No texto de J. Paiva, acima, foi mantida a forma ortográfica original, de 1952, quando foi publicado, também em capítulos, no jornal O NORDESTE, de Fortaleza;

2- As imagens, que antecedem ao texto, com legendas, tem a intenção apenas de ilustrar algumas citações do texto, que considero importantes;

3- Os próximos dois capítulos terão, também, o sub-título de: "Na Escola Militar do Rio"...

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Até a próxima semana........   Um forte abraço!!!



quarta-feira, 18 de julho de 2012

O NORDESTE, SEXTA-FEIRA, 28 DE JUNHO, DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XIV)
Uma vocação em disponibilidade
J. Paiva

Na Casa Velha, da família Oliveira Paiva havia um harmonium...
Adolfo Ferreira Caminha(1867-1897), faleceu jovem,
como o seu amigo Oliveira Paiva. (Wikipédia)
Capa da 1ª edição de  A Afilhada, 1º romance 
de  Oliveira Paiva.(Mercado livre).
"A gente vai ao quintal e não acha ata, vai a Virgínia e ach' ata"..



A convivência do lar, o enlêvo dos seus, a áura de oração, estudo e trabalho do Colégio, de onde constantemente vinha para ele e o irmão João, um chamado da Irmã Superiora a fim de prestarem algum serviço necessário que dependesse de suas habilidades e de seus préstimos, foram suavemente forçando Oliveira Paiva como a anestesiar um pouco o recalque que de todo  não mais o abandonaria senão no fim da vida.

O Mês de Maria, a Trezena de Santo Antônio, as Novenas de São José, acompanhados, ao som de um harmonium que havia em casa, com antífonas em latim entoadas pelos dois irmãos, também contribuíram para modificar a primitiva intensidade dos gestos de rebeldia contra não sabemos se a disciplina clerical que irremediavelmente o aniquilara, ou antes vindos do inferno para afastá-lo da carreira eclesiástica que, porventura, com o seu privilegiado talento e sua retidão de proceder, leva-lo-ia à cultura superior, às mais destacadas dignidades, senão às virtudes incomuns e ao apostolado irresistível...

Já se desenvolvia sua inesgotável veia de fina ironia, sua habilidade de mudar os nomes das pessoas por apelidos, empregar expressões esdrúxulas que lhe vinham de momento, procurar sempre meio de provocar a hilaridade sem ofender à dignidade e ao pudor. Isso faria com que Adolfo Caminha, na referida poliantéia, visitando-o no leito de mote, dele afirmasse : " O Paiva que eu muitas vezes vi passar triunfante como um herói legendário, entre ala se "amigos" que o cortejavam abertamente, o Manoel Paiva das quermesses com os seus epigramas finíssimos a fazer rir toda a geração hipocondríaca e atrofiada pela indolência, aquele belo tipo de cearense honesto e laboriosos, tritando "au-jour-le-jour", como um mineiro da Arte, o mármore fulgurante de seu grande talento; o Oliveira Paiva da "A Afilhada", o analista vigoroso da vida cearense, alí estava longe das alegrias ruidosas deste meio, outrora campo azul de suaves conquistas ideais onde ele se amestrava nos jogos florais da pilhéria e do folhetim..."


Havia, para exemplificarmos, no sítio do Outeiro, cajueiros e ateiras, uma verdadeira mata, com outras árvores e também arbustos. Ele e o irmão, na safra das atas, corriam apressadamente pelo quintal, e não encontravam quase nenhuma delas madura.  E, enquanto uma das irmãs, minha tia Virgínia, que não pude alcançar viva, por ter morrido também muito jovem, baixinha e sutil, sofrendo de arma, voltava de um giro mais demorado, com várias  pinhas a rachar, despertando a vontade, só pela vista, ele a observava irônico : "A gente vai ao quintal e não acha ata; vai a Virgínia e ach'ata".  Em tudo o mais tinha o dom de distribuir alegria constante e sadia, como nos mostra no romance póstumo que nos levou a referir cousas que a memória nos conservou, e para cujo contexto apenas algumas vezes ajustamos provas outras de documentos que obtivemos, ou de cuja leitura muito anterior vamos nos lembrando.


Perdida a vocação, tão bem começada e tão mal acabada, embora estivesse gozando um resto de infância no dôce remanso  da casa materna, Manoel de Oliveira Paiva, agora não lhe convindo ao talento a mediocridade da vida, tornara-se uma vocação em disponibilidade, tendo, em 1876, já pouco menos da metade de seus 31 anos de vida...
Por J. Paiva
...continua...


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NOTAS:
1- Em todos os capítulos, do texto biográfico de J. Paiva, aqui transcritos, vimos mantendo as normas ortográficas do ano em que foi escrito e publicado,  no jornal O NORDESTE, de Fortaleza: 1952;

2- As imagens que antecedem ao texto de J. Paiva, acompanhadas de legendas, tem o intuito, apenas, de ilustrar algumas referências citadas pelo biógrafo;

3- Os três próximos capítulos a serem publicados terão, como sub-título, " Na Escola Militar do Rio".  

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Até a próxima semana.................Um abraço!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O NORDESTE, SÁBADO, 14 DE JUNHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XIII)
Uma vocação em disponibilidade
J. Paiva
Charge de 1870 a respeito da QUESTÃO RELIGIOSA. A legenda
diz: " S. M. aproveitou a ocasião para, não desfazendo do macarroni do
Papa, fazer valer as vantagens de uma boa feijoada". No prato de macarrão
aparece a palavra Syllabus (título de um documento do Papa Pio IX condenando
os erros da civilização moderna), e no da feijoada, Constituição.(Wikipédia).
Charge do jornal  O MOSQUITO, publicada em 1875. (Blog História por
 Imagens, de Hermes Júnior, sob o titulo "As palmadas que D, Pedro II levou".)
Dom Pedro II, na "Fala do Trono" em pintura 
de Victo Meirelles.
Papa Pio IX, cujo papado foi de 1846 a 1889.
( Fonte e imagem:Wikipédia)
Loja Maçônica Grande Oriente do Ceará ( Imagem: Wikipédia)
Salão interno de uma loja maçônica  (Imagem: google).
Igreja do Pequeno Grande, inaugurada em 1903, vendo-se à sua
esquerda a antiga capela do Colégio da Imaculada  Conceição,que 
 era frequentada por Manoel de Oliveira Paiva e todos os seus familiares.
. No Colégio, tornaram-se freiras, Irmãs de Caridade, três de suas irmãs.
 O Sítio da família Oliveira Paiva ficava 100 metros à frente...
(Foto: Arquivo Nirez)
Interior  da Igreja do Pequeno Grande, em  Fortaleza. (Foto: google)


Voltara o rapaz de sua estranha aventura, magro, esquelético, com os maxilares salientes, quase irreconhecível, fraco em extremo e revoltado, toda  sua fisionomia cadavérica, olhar de espanto, conversação desconexa, causando grande pena e tristeza à sua família e ao circuito de sua amizade. Blasfemava como quem, num círculo de ferro, morde as costas das próprias mãos e apostrofa a imensidade porque não n'o precipita do nada!  Minha avó materna, a pobre mãe de Oliveira Paiva, nada dizia, estarrecida e penalizada, porém conformada.

Ninguém, por ignorância da exata doutrina católica, queria compreender que a mãe amorosa, que julgava ter o filho João para auxiliar no sustento da família, e o filho Manoel para o serviço da Igreja, pudesse aceitar em casa um filho "excomungado".  Apesar de Piedosa que era, acrescendo agora a convivência diária com as Irmãs de Caridade, tão suas amigas e tão boas para ela, às quais, por essa mesma época, estava entregando, após um estágio no Colégio da Imaculada Conceição, com órfãs, três filhinhas, três manas do seminarista expulso de um estabelecimento dos Padres da Missão, seus naturais Superiores , trânsfuga imberbe do sacerdócio e provavelmente da Congregação, a vovó recebera o filho com os braços abertos....

Ainda por esse tempo (vamos ilustrar e ambientar esta biografia), fumegavam os prélos  de Fortaleza, onde se editavam a "Fraternidade", órgão maçônico e  "A Tribuna Católica". Pugna terrível essa da Questão Religiosa, cujos mais gloriosos gladiadores na imprensa foram o sereno jornalista Antônio Manoel dos Reis e o violento panfletário Saldanha Marinho, na Corte.  A 6 de Maio de 1874, por exemplo,  lia-se no órgão cearense da Maçonaria, este provocante desafio ao evangélico Dom Luiz Antônio dos Santos: "Ah! Monsenhor, vós franqueais...falta-vos a coragem no momento supremo. O governo...o tribunal... um processo...uma prisão...uma fortaleza...isto são fantasmas que assaltam a imaginação do nosso brando Bispo!...Tanto melhor: isto será um triunfo de mais para os filhos da viúva..."  E, ainda mais recentemente, a 30 de março de 1875: " Que se nos ataque pois como os Atanásios, que se não seja cobarde..."

No entanto, Dom Luiz, atravessava os sertões do Ceará, a cavalo, nas suas estafantes visitas pastorais; fundara dois Seminários e já ordenara 120 sacerdotes!  E não sabemos se lá para as bandas do Outeiro, em plena mata, o meu tio, jovem hereje, ouvia o rugir da luta dos valentes órgãos provincianos, das duas fortalezas, a da Igreja e a da Maçonaria. O que é certo é que o Padre Chevalier, nos seus sermões do Colégio, vibrava de indignação quando a imprensa maçônica, dando descanso aos Bispos e ao Papa Pio IX, assestava  suas ferinas baterias contra Nossa Senhora!  
Isso nos contava em casa a mamãe, irmã de Manoel de Oliveira Paiva, a qual, aos nove anos, com os mais da família, frequentava habitualmente a Capela do Colégio da Imaculada Conceição.              
À vida curta do romancista se prendem muitas cousas...
Por J. Paiva
...continua...


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Notas:
1- A ortografia do texto biográfico de J. Paiva, foi mantida conforme fora publicado em 1952, no jornal católico O NORDESTE, de Fortaleza;

2- Consideramos importante, a ilustração com imagens e legendas relacionadas à Igreja Católica e à Maçonaria, neste capítulo, por conta da "famigerada" Questão Religiosa;

3-  O Capítulo XIV , permanece com o sub-título "Uma vocação em disponibilidade" para, no seguinte, dar lugar ao sub-título "Na Escola Militar do Rio".

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Estarei de volta, em uma semana......um abraço!
  

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O NORDESTE, QUARTA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 1952

MANOEL DE OLIVEIRA PAIVA (XII)
Uma vocação em disponibilidade
J. Paiva



Entre outros 26 companheiros de letras e lutas, de admiradores do seu talento e do seu caráter, além das redações dos jornais da época de sua morte (1892), "O Atleta",  "O Operário", "Silva Jardim", e "A República", que elaboraram na poliantéia da "Padaria Espiritual" em sua homenagem, assim se manifestava o sr. Gonçalo de Almeida Souto, professor, magistrado, político, literato e jornalista católico de nomeada, sob a epígrafe: "On ne doit aux morts que la verité"; "O homem precisa da morte para depurar-se, como o ouro precisa do fogo. O crisol é o tempo, mais ou menos longo, que a precede.  Então desanuvia-se a cerração da inteligência, a luz da razão surge caudal e as flores do coração degelam em filtros de amor. É que a graça apoderou-se do infeliz, rorejaram-n'o as águas do arrependimento e o estigma das almas condenadas dissipou-se naquela fonte de precito, onde irradiam agora  os fulgores celestes...Que o exemplo do Paiva, morrendo como um santo, edifique futuros escritores..."


Porque aqui evocamos êste dobre fúnebre, que só havia de ter aplicação e explicação 17 anos após, quando na data em que  estamos (1875), 14 anos apenas contava o meu tio?  É que as alternativas da psicologia de Manoel de Oliveira Paiva, ao sabor das vicissitudes, aquela amizade, aquela candura, aquela inofensiva brejeirice com que enlaçava a família e os de sua íntima camaradagem; aquele costume de sempre gracejar por fôrça de seu gênio expansivo e de vez por outra sentenciar, como um filósofo, pela imposição de sua reta consciência, nos seus romances, nos seus contos, nas suas poesias e nos seus folhetins, doutrinando, combatendo, constituindo; aquêle amor à família que êle tanto exalçou ao fazer o Luiz Secundino de Souza Barros abrir uma de suas malas ao chegar no Poço da Moita, e ainda outra, raciocinado ante a ordem na distribuição  encontrada: "Quanto capricho, quanto amor subia dali!  Mãos de mãe que desprezara por causa do padrasto!  De espôsa bem de que êle não gozara ainda!  As que arrumaram aquela roupa, os cuidados alí acumulados  uns sobre outros, as saudades eram não menos caras, de irmã. E patética e suave surgia daquela mala a alma da família, que êle não julgara querer tanto, dentre tudo persistindo a lembrança dos amores que por lá deixara" : tudo isso em conjunto, diríamos inefável para êle, tendo, a passos, primeiramente lentos, depois mais largos, e enfim dolorosamente acelerados, a doença a acabar com o corpo ainda bem moço, pede esta retrogradação de conceitos que fazemos para lhe fixar nitidamente a personalidade, feita e refeita pelos reveses, numa tão rápida vida !  E, nesta apreensão  e compreensão, neste fazer-se, desfazer-se e refazer-se, nêsses recúos e voltas aos bons princípios entra, por nossa parte pessoal, muito do sangue que é, nele e em nós próprio, o mesmo sangue, sem outra mescla, paterno e materno, único na família, depois da morte de minha irmã: Paiva Oliveira ou Oliveira Paiva, o que dá no mesmo pelo casamento consanguineo...


O ríspido mas santo sacerdote e missionário Lazarista Padre Enrile, veio a morrer, relativamente moço, aos 53 anos, no dia  23 de novembro de 1876, no Crato, pranteado e venerado por toda a população.


E agora preenchamos  o intervalo do destino do pobre adolescente  "egresso" do Seminário que um filho de São Vicente de Paulo dirigira com tanta disciplina e fadiga, conquanto o outro companheiro, de 1864, o Padre Chevalier, nove anos mais jovem e dotado de afável temperamento sobreviver-lhe-ia  até 1900, quase que se transformando, pela adaptação, num "cabeça chata" perfeito, e a quem por uma série de coincidência, veremos exercer seu ministério de salvação junto ao menino indisciplinado que se transformaria, pela longa visita da moléstia, numa conquista de "Mon Pére" para um glória sem limites. Padre Enrile e Padre Chevalier, duas típicas fisionomias de santo...
Por J. Paiva
...continua...



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NOTAS:
1- Em todos os capítulos, aqui postados, temos mantido a forma ortográfica do texto original de J. Paiva, publicados no jornal O NORDESTE , em 1952;

2- Não sei por qual razão, o crédito para a música, no vídeo postado, é atribuído a ALBERTO NEPOMUCENO, o que é um equívoco. Composição e voz, são do cantor cearense Ednardo. O  maestro Alberto Nepomuceno, era cearense e sobrinho de Manoel de Oliveira Paiva. Na biografia que aqui vem sendo publicada em capítulos, o seu nome já foi citado, algumas vezes;


3- A maioria das fotos do vídeo já foi publicada aqui, separadamente. O vídeo alterna, o "ontem" com o "hoje", mostrando que boa parte dos monumentos arquitetônicos foi alterada ou deu lugar a outro, como é o caso da Catedral; 

4- O sub-título, "Uma vocação em disponibilidade", prossegue, nos capítulos XIII e XIV. Espero você!


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Até a próxima semana..................Um abraço!