segunda-feira, 25 de julho de 2011

DE TAMATANDUBA AO COCOCI



(IN) SAGA DE UMA FAMÍLIA (VII)
Aí está,o nosso mapa do Brasil, por Estados, multicolorido.
Como iremos " enfrentar", uma viagem pelo Nordeste, do  
Engenho Tamatanduba, em Pedro Velho, RN. ao Cococi,
no Sertão dos Inhamuns, Estado do Ceará, resolvi traçar
 a rota nesta postagem da SAGA,com  o espaço geográfico
percorrido pela Família Paiva, quando de sua emigração,
por volta de 1843...Provavelmente, percorreram o caminho
mais curto, entre as Capitanias de Pernambuco e  do Piauí,
para chagar aos Inhamuns...
( Mapa do Ceará - foto da Wikipédia)
Não sei precisar a distância, nem a quantidade dos dias,  
 que levou a família Paiva,  para atravessar, a cavalo, do extremo  
 sul do Rio Grande do Norte, à fronteira oeste com o Estado do Piauí.
A "mancha" vermelha, no mapa, é o município de Parambu, cujo território foi habitado, antes
das Entradas vindas de Pernambuco, pelos índios jucás, candandus e inhamuns. Com a doação
de sesmarias ao longo do rio Puiú e a disseminação da criação de gado bovino na região surgiu um
povoado com o nome São Pedro do Cachoeiro formado em torno das fazendas de gado e de uma
capela, cujo patrimônio foi doado em 1772 por Enéas de Castro Feitosa. O município tem sete distritos:
Parambu (sede), Cococi, Gavião, Miranda, Monte Sion, Novo Assis e Oiticica.
Tentei me "camuflar", com esta indumentária, "verde canavial", 
mas, mesmo assim, sou notada na foto... além do que, estou "falando"...

MINHA FALA: - Esta é a porteira da entrada principal do Engenho Tamatanduba. 
Na estrada que passa aqui, à minha frente, ficava a Mata da Vara, onde havia a
Ladeira do Suspiro, em cujas margens escondiam-se os "cabras", de Dendé Arcoverde,
de um lado, e de Brito Paiva, do outro, sempre dispostos para emboscadas....
Nesta porteira, no dia 2 de fevereiro de 1842, chegou o cavalo de meu bisavô Vicente Ferreira
de Paiva, ainda com a sela, mas, sem o dono montado nele....seu corpo, inerte, ficara em Pedras de Fogo...
Desta porteira, saiu minha bisavó, Anna Joaquina de Castro Paiva,a Donana, viúva de Vicente, o Centú, acompanhada por dois  enteados, os três filhos menores e alguns poucos escravos...com destino ao Cococi, nos Sertões  dos Innhamuns, oeste do Ceará, limítrofe com o Estado do Piauí, no Nordeste brasileiro...
Este caminho, à minha direita, seguindo atrás, já bem distante da porteira,
leva à capelinha que ainda deve estar em ruinas...já que o IPHAN, não deu respostas
ao meu requerimento, para uma possível avaliação e restauração da mesma... 
Aí, do  meu lado esquerdo, o querido amigo Galvão (Prof. Francisco 
Alves Galvão Neto, Historiador/Pesquisador), meu "condutor" e orientador,
na facilitação para se localizar o Engenho Tamatanduba, a capelinha , as referências
bibliográficas , sobre o Engenho Tamatanduba, o Cunhaú,  e os "personagens principais"
desse enredo real: o Brigadeiro e o Prof. Brito Paiva. 
Segundo Galvão, esta casa, aí onde estamos, não é a casa original onde residia a família Paiva.
A casa original, era de taipa ( construção típica do nordeste, antigamente, com barro e varas).O local, é
mesmo da casa antiga...Esta informação, me foi passada por Galvão, no momento desta foto.... 

A partir da foto abaixo, já é COCOCI, no SERTÃO DOS INHAMUNS - CEARÁ...
O Sertão dos Inhamuns, que tem cobertura vegetal de caatinga, tanto arbórea quanto de arbusto , é
formado pelos municípios de Aiuaba, Tauá, Arneiroz, Parambu, Catarina, Saboeiro e Cococi..
Cococi, fica a 450 Km de Fortaleza. Para chegar à Tauá, fomos de ônibus comum, meu marido e eu, saindo da Rodoviária Engenheiro Tomé Sabóia, de Fortaleza. Foram 7 horas de viagem...
Esta é a Igreja de N. Sra. da Conceição, em Cococí, na chamada 
região dos Inhamuns. É uma igreja bem preservada, como se vê pela foto.
Nela, é celebrada missa, apenas uma vez por ano, no dia 8 de dezembro, data da celebração
de sua padroeira. A igreja/capela é mantida por Dona Dolores Feitosa, membro da Família
Feitosa, uma das mais influentes da região. Quando retornei com meu marido, do Rio Grande do
Norte, em 2007, ao visitarmos o Engenho Tamatanduba,  dias depois fomos conhecer o Cococi.
Na cidade de Tauá, que compõe  a Região dos Inhamuns, fomos bem recebidos por Dona Dolores
Feitosa que dirige a Fundação Bernardo Feitosa, colocando à nossa disposição seu carro e motorista
particular, que conduziu-nos ao Cococi, distante 43 km de Tauá...Para atravessar a antiga fazenda, passa-se por sete porteiras. Vai-se abrindo cada porteira, deixando-as escancaradas, para a passagem do carr, Só
no retorno, vai-se fechando, uma a uma, à medida que que se atravessa...cada uma das sete porteiras... 
Esta garotinha comigo na foto, é filha  de uma das moradoras do Cococi.
Apenas duas famílias residem atualmente nessa cidade que é conhecida como
"Cidade Fantasma". 
Uma das moradoras, é responsável pela limpeza da igreja e pela chave. Sempre que chega um
"turista" curioso, a senhora gentilmente abre as portas do templo. 
(Foto : acervo próprio - Lúcia Paiva) 

Interior da Igreja de N. Sra. da Conceição, no Cococi- Inhamuns- CE.
O coronel Francisco Alves Feitosa, viveu os seus últimos dias na fzenda
Cococi,. Essa igreja/capela, foi inaugurada por ele em 1748, seguindo o
modelo da igreja de Feitosa, em Portugal, que tem altar lateral, junto ao
arco do altar-mor.(Fonte: http://genealogiafreire.com.br.)
(Foto: acervo próprio- Lúcia Paiva)
Altar-mor da Igreja de N. Sra. da Conceição , em Cococi-CE
(Foto: acervo próprio - Lúcia Paiva)'.
Foto tirada do casarão, também abandonado, que pertenceu ao
Major Feitosa, político e descendente dos primeiros Feitosa que "criaram"
o então povoado/fazenda  Cococi... (Foto: acervo próprio - Lúcia Paiva).
Este senhor, que está ao meu lado, é o motorista de Dona Dolores 
Feitosa, que gentilmente cedeu o seu carro para que meu marido e
eu vistássemos  a cidade abandonada. Relatei, à Dona Dolores Feitosa,
da emigração da família Paiva. para o Ceará, vinda do Engenho Tamatanduba,
permanecendo primeiro em Cococi por algum tempo, um ou dois anos talvez,
para só depois ir se instalar em Fortaleza, capital do Ceará...distante 450 Km...
Este é o casarão , também abandonado, que foi residência do Major Feitosa....
(Foto: acervo próprio: Lúcia Paiva).
(Foto: blog de Altaneira)
Casas em ruínas,  na "Cidade Fantasma",  Cococi....
(Foto: blog de Altaneira)
Casas em ruinas na "Cidade Fantasma", Cococi...
Segundo a vice-presidente da Fundação Bernardo Feitosa, Fátima
Feitosa, os únicos registros históricos apontam a fundação de Cococi em 1708,
pós a chegada do Coronel Francisco Alves Feitosa, na região dos Inhamuns. Com isso,
pode-se chegar à conclusão de que o processo de colonização dos Inhamuns passou  por
Cococi.  Foi designado município em 1954, mas em 1968 foi destituido passando a ser  distrito
de Parambu. A cidade de Cococi possuiu apenas dois prefeitos, o Major Feitosa e Leandro Custódio
(que aparece, no vídeo publicado abaixo), que é, também, da família Feitosa....
(Foto: acervo próprio - Lúcia Paiva)
(Foto tirada a partir do Casarão que foi residência do Major Feitosa)

Este vídeo, em complemento com a série de fotos, dão bem
a ideia  do foi , e do que é, o Cococi de hoje... 
A emoção que sentí, ao entrar no  Cococi, foi semelhante a que 
senti ao entrar no Engenho Tamatanduba......imaginar que, nestes dois
lugares estiveram meus ascendentes paternos... que os filhos de Donana,
estiveram a correr e a brincar em suas ínfâncias despreocupadas, sem o
alcance do drama vivencial por que passava sua mãe, precocemente viúva...
Imagino o apoio e a imensa coragem de Antônio Pereira de Brito Paiva, 
ao assumir o "comando" de uma família, "substituindo" o pai assassinado...dali em
diante, passaria a ser o "pai" dos irmãos menores e trataria a madrasta como se fora sua mãe..

*******
A emigração da Família Paiva para o Ceará, "instalando-se",
primeiro, no então povoado Cococi, não foi aleatória, ao "escolher" uma região um tanto "inóspita" como é a caatinga do
Sertão dos Inhamuns. Não, não foi. No Cococi já viviam, desde
o início do século XVII , a família Alves Feitosa, parentes da
 família Paiva. Essa ligação, só ficou bem esclarecida, para
mim, depois de muitas pesquisas...No entanto, não sei precisar,
ainda, o grau de parentesco, entre as duas famílias....É
possível que venha a ser pelo sobrenome Castro, de minha
bisavó Anna Joaquina de CASTRO Paiva.
A pesquisa genealógica prossegue....

Nos escritos de meu pai encontro: -" O sangue dos Inhamuns não mudou o sangue dos Bons, Burros e Bravos, de que falava, entre sicero e maldoso, João Brígido. Havia Sacerdotes e Fazendeiros, e entre aqueles Mons. Pedro Leopoldo de Araújo Feitosa, Vigário da Sé e autor de "As Belezas da Religião", isso no começo do século XX , antes dos nossos 10 anos.
De Lourenço de Castro Alves Feitosa, escrevera o maravilhoso Barão de Studart no Dicionário Bio-Bibliográfico Cearense 2º volume, 1913:
"Seu pai era neto do Capitão Bernardo Freire de Castro, senhor do Engenho Tamatanduba, no Rio Grande do Norte, filho do Sargento-Mor Leandro Custódio de Oliveira Castro, de Tamatanduba, e de Eufrásia Alves Feitosa, bisneta do Cel. Alves Feitosa, o fundaor do Cococi, rio dos Jucás, e sua mãe era filha Major José Alves Pedrosa, também bisneto daquele fundador, e de D. Ana Gonçalves Vieira, filha única do Cel. Joaquim Chaves, o prisioneiro do Governador João Carlos e que morreu no Limoeiro do Norte.
Lourenço Feitosa, como seus irmãos, foi mandado estudar desde as 1as.letras em Fortaleza, onde frequentou emtre 1853 e 1854 a escola do professor Spíndola, que gosava de grande nomeada como pedagogo, morando na casa do Cel. Paiva, seu parente pelo lado paterno"
Ainda lemos na biografia do Pe. Francisco Máximo de Feitosa e Castro, seu irmão, a mesma referência ao parente paterno, Cel. Antônio Pereira de Brito Paiva que, vindo do Rio Grande do Norte, em 1843, logo após a morte de seu Pai, Vicente Ferreira de Paiva, patriarca da Família, assassinado a 3 de fevereiro de 1842, emigrou com todos os Paiva pelo perigo de novo choque com André Arcoverde de Albuquerque Maranhão, ou André do Cunhaú.

Além desses escritos, deixados por meu pai, onde ele cita grandes
historiadores cearenses, como João Brígido e o Barão de Studart,
tenho buscado fontes que venham a esclarecer, definitivamente, a emigração da Família Paiva para o Ceará, e sua ligação com as
famílias Freire de Castro/Alves Feitosa, que a acolheu, na
fazenda/povoado Cococi, no Sertão dos Inhamuns...
Recentemente, acessei o o site www.genealogiafreire.com.br , do
qual transcrevo parte do texto, logo abaixo:

"Originário do sertão dos Inhamuns, no Sudoeste do Estado do Ceará, a Família Jucá é uma das mais numerosas do Nordeste e hoje está presente em todo o território brasileiro, ela surgiu,ainda o século XVII, no seio da Família Feitosa, para prestar duas homenagens: à memória do capitão-mor Bernardo Freire de Castro, senhor de engenho em Tamatanduba, um dos mais prósperos da Capitania do Rio Grande do Norte, e dos índios Jucás, que dominaram as cabeceira do rio Jaguaribe. O sargento-mor Leandro Custódio de Oliveira Castro mudou-se para os Inhamuns a fim de criar gado, depois de um romance desfeito, em sua terra natal, com a prima Ana Tereza, com quem teve um filho. Ainda jovem, ele se casou com Eufrásia Alves Feitosa. A família Feitosa era a mais importante e a mais numerosa dos Inhamuns desde o início do povoamento da região, onde se projetou, graças à criação de gado, como a maior expressão econômica e política. O primeiro Jucá, o Patriarca Bernardo Freire de Castro, era um dos dez filhos do casal Leandro Custódio de Oliveira Castro - Eufrásia Alves Feitosa."
Prosseguindo, essa narrativa, o site de genealogia registra:

"(......) Convidou ele à mulher para um passeio no meio da família no Rio Grande do Norte. De viagem, Leandro Custódio disse à sua mulher que, chegando à sua terra, Ana Tereza viria visitá-la, e que D. Eufrásia teria que ficar gostando muito dela, e que, quando a amizade estivesse feita entre as duas D. Eufrásia dissesse que tinha um pedido para lhe fazer e tinha a certeza que que Ana Tereza daria a palavra atendendo ao pedido; e assim, D. Eufrásia pedisse o pequeno Leandro, para criá-lo. Tudo assim aconteceu, mas Ana. quando entregou o menino disse que dava a ela , porém a Leandro não daria nunca, porque ele era muito ruim."

Mais adiante, lê-se um trecho importante, para a nossa postagem :

"Pouco se sabe sobre o capitão Bernardo Freire de Castro, pai do sargento-mor Leandro Custódio de Oliveira Castro, ele era o senhor do Engenho Tamatanduba, na Capitania do rio Grande do Norte, que no dia 11 de janeiro de 1701 saiu da tutela da Capitania da Bahia, para ficar subordinada à Capitania de Pernambuco. A sua independência administrativa ocorreu com a carta régia de 12 de setembro de 1770. Vale lembrar que o casamento do sargento-mor Leandro Custódio de Oliveira Castro com Eufrásia Alves Feitosa ocorreu em 1789".

Procedi às transcrições acima, para que possamos melhor entender
quem foram os proprietários do Engenho Tamatanduba. Ainda
permanecem dúvidas, quanto à  situação da Família Paiva no
"contexto" daquela propridade. Sabemos que a Família Albuquerque Maranhão detinha a maioria das terras da região
sul do Rio Grande do Norte. 
No livro "O Engenho do Cunhaú à Luz de Um Inventário", de Olavo de Medeiros Filho, encontramos, à página 80, o seguinte:

"O Espólio de dona Antônia Josefa do Espírito Santo Ribeiro era devedor às seguintes pessoas:

FRANCISCO DE BARROS LEITE............................316$760
Filhos de JOÃO DE ALBUQUERQUE MARANHÃO, do Miriti
...............................................................................1:127$665
LEANDRO CUSTÓDIO DE OLIVEIRA, sargento-mor"de resto da
compra do ENGENHO TAMATANDUBA"............2:208$329
ANTÔNIO MANUEL MOREIRA, "de resto de seu ordenado, que vencia"........................................................................30$135

É importante registrar aqui que os bens da família Albuquerque Maranhão foram todos confiscados em 1817, por ordem do Provedor da Fazenda Real. Somente em 1823, quando haviam sido perdoados os réus daquela Revolução, ocorreu o inventário dos bens que haviam pertencido à Senhora do Cunhaú. 
Suponho que, a partir desta data, André Arcoverde de Albuquerque Maranhão, o Dendé Arcoverde, tornou-se o Senhor do Cunhaú. 
Possivelmente, o Engenho Tamatanduba , pertencendo à sua família , passou a ser arrendado. Não sei precisar, qual seria a situação da
família Paiva, na forma de "inquilinato", ao residir no Engenho Tamatanduba, de 1838 a 1843.

Neste mesmo Inventário, há uma interessante descrição do Engenho Tamatanduba, em que é citado BERNARDO DE CASTRO FREIRE, que é o mesmo Bernardo Freire de Castro,
que julgo importante aqui transcrever:

"O Engenho TAMATANDUBA, de fabricar açucar, com casa de vivenda, casa de moenda, casa de caldeira e de purgar, uma capela de pedra-e-cal, o engenho aparamentado de todo o necessário, com caldeira de cobre grande, e mais outra de cobre pequena, cinco tachas de ferro coado, mais quatro ditas de cobre, um aparador de espuma de cobre, mais duas....velhas de cobre, e duas espumadeiras velhas, e uma repartideira; com as terras a ele pertencentes, que constam das escrituras que a Inventariante tem em seu poder, com os partidos de cana e situações  nele encravada, possuído por compra, o qual engenho se acha arrendado, por escritura pública, ao herdeiro João de Albuquerque Maranhão Júnior, trienal, com toda a sua fábrica de escravos, bois e cavalos, como tudo consta da escritura passada, nas Notas do Escrivão, digo Notas do Cartório de Vila Flor, cujo arrendamento vence o primeiro pagamento em maio de  mil oitocentos e vinte quatro, como tudo consta da escritura que ela, Inventariante, mandou passar pelo tabelião daquela dita vila, no qual Engenho tem os herdeiros do falecido Bernardo de Castro Freire a quantia de seiscentos mil reis"...................................................600:000$000

Assim, mostramos em que contexto ocorreu  a emigração da família Paiva, do rio Grande do Norte para o Ceará, a partir do assassinato do meu bisavô paterno, Vicente Ferreira de Paiva, em
fevereiro de 1842.....

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NOTA:1. Minha bisavó, Anna Joaquina de Castro Paiva, acompanhada de seus enteados Miguel e Antônio Pereira de Brito 
Paiva e dos seus filhos Maria Isabel, Manoel e  
José Joaquim Castro Paiva, após uma estada de 
mais ou menos um ano nos Inhamuns, na fazenda
Cococi, transferiu-se para  a capital  
do Ceará.
Fortaleza, tornou-se o refúgio da grei...

2. Sua enteada,Maria Benvinda, quando da 
da emigração, já havia se casado, tinha filhos
e residia em outra cidade...portanto, não emigrou
para o Ceará com a família Paiva.

3. A próxima postagem terá como "cenário"
a Fortaleza  da metade do século XIX, com
a família Paiva vivendo nela....O episódio, terá
como título, "NO BAÚ DAS RELÍQUIAS, UMA
LÁPIDE TUMULAR"....(IN) SAGA DE UMA FAMÍLIA (VIII).

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Estou indo..........mas retorno.................Um abraço!

domingo, 17 de julho de 2011

EMBOSCADA, EM PEDRAS DE FOGO...

(IN) SAGA DE UMA FAMÍLIA (VI)
Esta foto, para mim, é inusitada. A rua que é vista, à direita, divide
o município de Pedras de Fogo, que fica ,também, à direita, e o 
município de Itambé,à esquerda. Mas, o extraordinário está em Pedras
de Fogo pertencer ao Estado da Paraiba e Itambé ao
Estado de Pernambuco. São, portanto, duas cidades
geminadas : a 1ª, tem 348 Km2 e a 2ª , tem306 km2.

A história delas é muito peculiar e facilmente compreensível, pelo fato de
que Itambé significa pedras de fogo (ou pedra afiada, que solta faísca).
Esse território, no século XVI, definido apenas como "interior da Paraiba" e
"interior de Pernambuco", era caracterizado pela existência de pedras avermelhadas
cuja nomenclatura etmológica (itambé) denuncia a presença de índios na região possivelmente
ocupantes do litoral paraibano. Seriam os índígenas Carirís.
(Foto: Panoramio - google)


 
Há registros de que o povoamento da área correspondente à Paraiba
foi fragilmente efetivado por conquistadores brancos, nos meados do século XVI.
Colonos e tropeiros migraram de Pernambuco para o interior da Paraiba, conduzindo
boiadas, o que deu origem a uma espécie de feira onde se efetivavam trocas de bovinos
e equinos,. A feira, portanto, está relacionada com Pedras de Fogo, contudo, o desenvolvimento
conjunto com Itambé (à época També) acentua uma identidade muito próxima, observada entre
pedrafoguenses e itambeenses. Há que se registrar, nesse ínterim, que do povoado de Desterro,
També, no século XVII, grande parte dos moradores mais antigos, migraram para o povoado paraibano,
envolvendo assim, de forma considerável, os dois povos.
(Foto: Panoramio - google).


Igreja de N. Sra. da Conceição, em Pedras de Fogo.

Na verdade, a história dos dois municípios, confunde-se desde as sua origens.
Pela pesquisa realizada(*) foi impossível determinar em que período exato se constituiram.
Segundo a versão mais comum, ambas surgiram de um mesmo aglomerado, que mais tarde, em
decorrência de questões políticas, se separaram.. As terras do Norte couberam à Pedras de Fogo,
que conserva em português, o nome do lugar de onde se originou. As terras do Sul passaram a pertencer
à Itambé, que deixou de ser També para voltar às origens indígenas.

Igreja de N. Sra. do Desterro. Itambé, além de ter se chamado També e
também  Desterro, por volta do século XVIII, conforme registrado
acima. Comparando as duas primeiras fotos, a primeira registrada  em pleno dia, bem
nítida, e a segunda ao final da tarde, ao por do sol, observa-se a Igreja de N. Sra. da Conceição,
padroeira de Pedras de Fogo, vista à direita e de frente, e a Igreja de N. Sra. do Desterro, padroeira
de Itambé, em posição lateral.

(Fonte: O conteúdo explicativo, abaixo das fotos, teve, como fonte
a Monografia " A Feira Livre em Pedras de Fogo- PB", de  Ligia
Betânia Wanderley Silva, para a obtenção de Grau, no
Curso de Geografia da Universidade Federal da Paraiba, em  2006).
(Foto: Panoramio - google).

Para ilustrar, trouxe esta foto, que mostra a queimada de um canavial,
em sítio de Pedras de Fogo -PB-Brasil.
(Foto: Panoramio- google).

Para contrastar, e compensar, trouxe esta foto, que mostra a irrigação de um
canavial, em Pedras de Fogo- PB- Brasil.
(Foto; Panoramio- google).

Temos, acima, o mapa do Estado de Pernambuco, onde a "mancha"
vermelha é o município de Itambé, limítrofre sul com o Estado da
Paraiba. (Foto: Wikipédia).

Nesta foto, vemos o mapa do Estado da Paraiba, em que a "mancha" vermelha
representa o município de Pedras de Fogo, limitand-se, ao sul,
com o Estado de Pernambuco. Observa-se a grande
proximidade com o litoral. (Foto: Wikipédia)

Foto muito antiga ,da Barra do Cunhaú. Relacionei
esta foto, com a saida de meu bisavô, Vicente Ferreira
de Paiva, em sua última viagem, no  início do mês
de fevereiro de 1842, para a feira de Pedras de
Fogo, onde os "cabras" do "Brigadeiro" o
aguardavam, numa cilada, matando-o...
(Foto: do blog História de Canguaretama,
do Prof. Francisco Galvão)

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São muitos, os descendentes de VICENTE FERREIRA DE PAIVA,
que vieram perpetuando, o seu nome, por várias gerações, desde
que sua vida foi ceifada, a mando do "Brigadeiro", o Dendé do
Cunhaú, o último Senhor do Cunhaú: André Arcoverde de Albuquerque Maranhão.
Quando flolheio as páginas, onde está exposta a árvore genealógica do Patriarca da Família Paiva, no Nordeste brasileiro, encontro o nome "Vicente", em várias gerações, sendo "imortalizado", de certa forma.. . Nenhum
filho, dos dois casamentos de meu bisavô, chamou-se Vicente. A "veneração" teve início, a partir da
3ª geração. Meu primo, Francisco Lopes de Paiva, está sempre
a atualizar a "frondosa" árvore que, a esta altura, já está na 8ª
geração, salvo engano...

Vicente Ferreira de Paiva, meu bisavô, veio de Portugal,para o Brasil, possivelmente por volta de 1805, fixando moradia no município de Vila Flor,
no litoral Sul do Rio Grande do Norte. A cidade portuguesa, onde
teria nascido, não se sabe precisar. Quem sabe, no Norte de Portugal, onde corre o Rio Paiva, onde está a cidade nomeada por Castelo de Paiva. Dizem que, de lá, vieram  os primeiros, de sobrenome Paiva.
"Imaginemos", que sim..., por enquanto !

Em Vila Flor, Vicente casa-se, em primeiras núpcias, com Maria Rita do Amor Divino, filha de Aurélio Pereira de Brito e D. Maria Inácia Barbosa Pereira Franco. Deste consórcio, nasceram três
filhos: Maria Benvinda, Miguel e Antônio Pereira de Brito Paiva.

Morrendo a primeira esposa, Vicente casa-se com D. Anna Joaquina Revorêdo de Castro, filha de Gonçalo Gomes de Castro e Maria Rita de Revorêdo. Do casamento com D. Anna, nasceram,
também, três filhos : José Joaquim, Manoel e Maria Isabel de Castro Paiva.

Sabe-se que, Vicente Ferreira de Paiva, lidava com agro-pecuária,
quando passou a residir no Engenho Tamatanduba. No ano de 1842 tinha, de seus filhos do primeiro casamento,  já adultos,
todo o apoio no trabalho do engenho. Os três filhos mais jovens, com  Donana (assim chamava a mulher, segundo meu pai),
minha bisavó, eram crianças, ainda, entre cinco e oito anos, de acordo com os escritos de meu pai - José Joaquim de Oliveira Paiva,
filho de José Joaquim de Castro Paiva, meu avô. Segundo meu pai,
José Joaquim, seu pai, teria ,em 1842, a idade de oito anos.

Meus leitores já conhecem o "clima" reinante entre o Engenho do Cunhaú, de Dendé Arcoverde e o Engenho Tamatanduba, do
Professor Brito Paiva. Este meu tio-avô, com idade de 31 anos,
em 1842, nascera em 1811, como vimos na postagem
anterior, ajudava ao pai na administração da propridade.  No entanto, ministrando aulas na escola, em Vila Flor,
na maioria das viagens, não acompanhava o velho pai, para a venda dos produtos agrícolas e gado na feira de Pedras de Fogo, na Paraiba.


Certa madrugada, no início do mês de fevereiro de 1842, ao
se despedir da esposa, saindo para a venda da produção, na feira de Pedras de Fogo, cidade paraibana, limítrofe com Itambé,
cidade de Pernambuco, Donana repetira, o que há muito vinha
  vinha dizendo:- "Tome muito cuidado, há muito perigo rondando
a estrada, o caminho é longo demais, não se descuide, Centú".

Ela temia a viagem do marido, que sempre precedia aos seus homens, com a carga. Mas ele teria dito, à mulher:-"Donana, quem não deve, não teme!".
Mas, o golpe era premeditado e traiçoeiro.Contaram ao meu pai,
que deixou registrado em seus escritos, que ,o cavalo de Vicente era tão ensinado  que, sem o dono, caido morto, em Pedras de Fogo, chegou com a sela, à beira da porteira do cercado do Engenho Tamatanduba. Era o dia dois de fevereiro de 1842...

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NOTA: Na próxima postagem, começa a emigação de minha bisavó,
 Donana, viúva, com 3 filhos e  2 enteados, para o Ceará.
O Prof. Brito Paiva, que tratava a madrasta como sua
mãe, assume o patriarcado da família.
Portanto, queridos leitores, teremos : "De Tamatanduba
ao Cococi" (IN) SAGA DE UMA FAMÍLIA (VII)...

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Já vou embora............................mas, eu volto. Um abraço!































  

sábado, 9 de julho de 2011

LUTAS : BRIGADEIRO X Prof. BRITO PAIVA

(IN)SAGA DE UMA FAMÍLIA (VI)
No início do século XVI, foi implantada a aldeia indígena Gramació
na região sul do Rio Grande do Norte, limítrofe com a Paraiba. No
período de 1743 a 1745 foi construida a Casa da Câmara e cadeia
(edificação que vemos, na foto). Em 1762 a aldeia de Gramació foi
elevada à condiçao de vila, passando a se chamar Vila Flor.
(Foto: Elizete Arantes, do "blog da Professora Elizete")

Capela da antiga aldeia de Gramació, construida no período de 1743
a 1745, de evocação à N. Sra. do Desterro. Foi reedificada em 1843.
O nome Vila Flor, foi colocado, quando a aldeia Gramació foi elevada
à vila, em homenagem a um distrito de Bragança, Portugal.  Estava
ordenado, pela Carta Régia de 3 de janeiro de 1755, que os aldeamentos
indígenas, que se transformassem em vila, passassem a ter nomes de 
comunas portuguesas. Vila Flor- RN - Brasil...
(Fonte: férias.tour.br.-O Seu Portal de Turismo)....
(FOTO: Elizete Arantes, do "blog da Professora Elizete).
A parte térrea, da antiga Casa de Câmara e cadeia,
é toda rodeada de belos arcos.Nela, hoje, funciona um
Centro Cultural ,com Biblioteca e Museu.
Vila Flor- RN- Brasil.
(Foto;Zilsom José Soares)
Açude, em Vila flor- Rio Grnde do Norte- Brasil. Fico a imaginar
 meus familiares, como bisavós, avós e tios-avós, que aí viveram,
até nasceram, usufruindo dessa beleza de açude....Quem sabe,
minha bisavó lavou roupa, em suaas margens....E o banho!!!!
(Foto: Cristiano Marcos da Silva-  no Férias.tour. br.)

O mesmo açude da foto acima, com a estrada  carroçável à vista.
Não conheci este açude, quando estive em Vila Flor. Na próxima,
este açude  não me "escapa" rsrsrs... Parece muito bonito.
(Foto: Cristiano Marcos da Silva - no Férias.tour.br.)
Em capítulo anterior, o ACTAS DIURNAS(II), de 18/06/2011
postei este mesmo mapa, em forma de um "elefantinho", cuja
"mancha" vermelha, lá, é Cnaguaretama. Nesse, a "mancha"
vermelha é Vila Flor. Comparando, as localizações das
duas "manchas" vermelhas, se tem a nítida ideia da
pequena distância entre os dois municípios.
(Mapa: Rio Grande do Norte - Vila Flor- Brasil)
(Foto: Wikipédia)
Este belo jovem, é meu querido amigo
Galvão- Historiador/Pesquisador
Prof. Francisco Alves Galavão Neto,
filho de Canguaretama. Galvão conhece,
profundamente, a história de sua cidade
e de seu Estado, RN. Encontrei-o, em 2007
e, não fora êle, não teria avançado, em tempo
tão recorde, nas minhas pesquisas locais. Foi
Galvão, quem  me levou para conhecer o Engenho
Tamatanduba e me indicou uma rica referência
bibliográfica, sobre o Cunhaú, Tamatanduba, Vila Flor
e Canguaretama. Aqui, registro minha homenagem, a ele, e
agradecimento pelos seus imensos préstimos e gentilezas...
(Foto: do blog História de Canguaretama, do
Prof. Francisco Galvão)


Este, da foto, é Antônio Gomes da Rocha Fagundes (1896-1982).
Mais conhecido por Prof. Fagundes, ele nasceu em Canguaretama,RN,
sendo autor de vários lívros sobre a historia de sua cidade e do
Rio Grande do Norte. Meu amigo Galvão, que apresentei acima,
levou-me à Biblioteca Municipal de Canguaretama- RN, fazendo
cópias de um impresso, de autoria do Professor Fagundes,o qual
nunca fora publicado - NOTAS SOBRE CANGURETAMA-
onde consta, dentre outros fatos e biografias,  a biografia
do Brigadeiro Dendé Arcoverde, a do Prof. Brito Paiva
 e AS LUTAS ENTRE O BRIGADEIRO E ANTÔNIO
PEREIRA DE BRITO PAIVA. Lancei mão, dos escritos, para
a postagem de hoje.(FOTO: do blog História de
Canguaretama, do Prof. Francisco Galvão)

Agora, que os leitores desta SAGA, já conhecem, bastante bem, o caráter de Dendé do Cunhaú, traçado por Câmara Cascudo, nas
Actas Diurnas aqui publicadas nas postagens anteriores, lança-se
mão, para a publicação de hoje,dos escritos de Antônio Gomes da Rocha Fagundes, o Professor Fagundes,
"Notas sobre Canguaretama", para  que passem a conhecer um
pouco, também, do perfil psicológico de Antônio Pereira de Brito
Paiva, o Professor Paiva, cujo pai, Vicente Ferreira de Paiva,
meu bisavô paterno, foi assassinado a mando de Dendé Arcoverde,
mais conhecido por "Brigadeiro".
Seguindo-se, ao perfil do Prof. Paiva, será transcrito um trecho,
desses mesmos escritos, acerca das lutas travadas entre
o Brigadeiro e o Prof. Paiva.
Ao final do capítulo de hoje, os leitores saberão como transcorreram os últimos dois dias, de vida,  do terrível Dendé...

ANTÔNIO PEREIRA DE BRITO PAIVA

Nascido em Vila Flor a 25 de setembro de 1811, Antônio Pereira de Brito Paiva abraçara o magistério primário.
Deve ter lhe falado bem alto a vocação para esse mister, de tão
exíguas compensações, tanto materiais quanto sociais. Fora nomeado para escola de sua terra-natal. Devia fazer jus aos vencimentos a mais de trezentos mil reis, gorda recompensa por um traballho de tamanha impotância político-social.
A nomeação fizera-se a 4 de julho de 1838 e a posse verificou-se tres dias depois. A 15 de outubro desse mesmo ano, estava removido para
Apodi. Sendo a nomeação para Vila Flor, o nosso mestre escola  deixou-se ficar e não tomou conhecimento do ato da remoção.
Em agosto de 1843(*) foi removido para Campo Grande, hoje  Augusto Severo.
 Tratava-se de perseguição política, porquanto,
pertencendo ele ao Partido Liberal (Luzias) teria de ser transferido todas as vezes que o Partido Conseravador (Saquaremas) galgasse o poder. Brito Paiva  não obedeceu, também, ao segundo ato de remoção. Espírito de boa têpera, não se curvava às injunções dos adversários.
Resolvendo dedicar-se à agricultura, instalou-se em Tamatanduba, do atual município de Pedro Velho, numa propriedade que limitava com o engenho Cunháu e lá passou a desenvolver atividades agrárias.
Crescendo-lhe a familia(**), evidenciou que
que o meio rural não era propício à educação dos filhos, cujas idades estavam reclamando ambiente mais amplo e de maiores possibilidades sociais e culturais. Emigrou então pra o vizinho Estado do Ceará, fixando-se em Fortaleza.
Inteligente e operoso, fez bonita figura na política do estado vizinho onde foi vereador, Intendente por várias legislaturas(***),
cargo correspondente hoje a prefeito.
Solicitador e advogado, sempre fiel aos seus princípios partidários, desenpenhou-se com eficiência em todas as funções para as quais fora convocado.
Pelos bons serviços prestados às causas públicas, recebeu a comenda de Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Educou os filhos e os viu atingir a postos elevados em meio da sociedade alencarina. Joaquim Olimpyo de Paiva, um deles, chegou a ser desembargador da côrte do Ceará, o outro, Vicente Osório de Paiva, foi deputado federal e veio a falecer no posto de marechal do Exército nacional.
De sua permanência em Tamatanduba, o Rio Grande do Norte conserva a memória das hostilidades do Brigadadeiro, senhor do
engenho Cunhaú, de quem se constituira inimigo irreconciliável.
Brito Paiva faleceu em Fortaleza, a 22 de julho de 1901, depois de tão propícias e eficientes atividades políticas e sociais na terra de José de Alencar, com as quais tanto soube honrar e dignificar a terrinha modesta de seu nascimento.

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NOTA: Os asteriscos(*), no texto do Prof. Fagundes, acima
trascrito, foram colocados por mim, para correção, tendo
por base os escritos de meu pai, que lhes foram transmitidos
por seus ascendentes. Com a continuação da SAGA, ainda a
ser narrada, essas questões, de "datas" e "filhos", de Brito Paiva,
ficarão melhores esclarecidas...

 (*) A data 1843 não é correta. Brito Paiva já morava no
Engenho Tamatanduba, quando seu pai foi assassinado a mando
de Dendé do Cunhaú, em 1842. Em 1843, já teria emigrado
para o Ceará, por recear nova emboscada...
(**)Brito Paiva, não possuia filhos, nem era casado, em Tamatanduba. As crianças, citadas por Antônio Fagundes, eram
seus irmãos menores, nascidos do 2º casamento de seu pai.
(***) Brito Paiva foi Intendente, de Fortaleza, em apenas uma legislatura.

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AS LUTAS ENTRE O BRIGADEIRO E ANTÔNIO PEREIRA DE BRITO PAIVA

A fama do atrabiliário Dendé Arcoverde corria pelas circunvizinhanças de Cunhaú. Forte, arrebatado, valente, não renunciava um só desejo, por mais extravagante e pernicioso, fossem quais fossem as consequências.
Vivendo ao fausto, cercava-se no engenho de criminosos, aos quais dispensava agasalho e proteção, Aquele, cometesse um crime, dele se aproximasse solicitando proteção, estava garantido.
Ninguém ousava reclamar-lhe.
Era notório que o nome do brigadeiro aterrorizava cinquenta léguas em derredor ao mesmo tempo em que se tornava escudo para os que tencionavam dele se valer. No limite do Cunhaú ficava a propriedade Tamatanduba, do atual município de Pedro Velho, pertencente(*) ao professor  Antônio Pereira de Brito Paiva.
Por quesões de terra, os dois vizinhos se desavieram, nascendo daí uma intriga ferrenha, das mais imprevisíveis consequências.
Cada um possuia numeroso bando de guarda-costas bem armados, valentes, decididos, dispostos a qualquer eventualidade. Quando menos se esperava, surgia a notícia de uma façanha, culminando na morte de um cristão.
Nas feiras e nas festividades comuns na região, nas festas populares de Natal e São João, batiam através de seus cabras , como se constituissem exércitos em defesa de causas ante o direito dos povos. Não havia possobilidade de acordo. Adepto de um lado estava tacitamente condenado pelo outro. em defesa do "senhor" e de sua honra, os guarda-costas não mediam dificuldades, tudo faziam sem pesar as consequências.
Frequentes eram as emboscadas de um e de outro lado. O próprio brigadeiro dela livrou-se, por algumas vezes, graças ao seu cavalo predileto, ágil, corredor, veloz.
Na estrada entre Tamatanduba e Cunhaú, havia uma mata mais ou menos espessa - a Mata das Varas - em cujas margens ocultavam-se os cabras , sempre dispostos para emboscadas. A estrada somente poderia ser atravessada em  condições especiais. Quem quer que por ali trnsitasse, cavaleiro ou pedestre, devia ir cantarolando, assobiando, ou mesmo aboiando como se tangesse gado. do contrário corria o risco de ser alvejado por um dos pistoleiros e, sem tardar, o grupo descia do mato, exterminando. Os grupos rivais, postados de cada lado da estrada, à espreita de um inimigo, não tinha complacência com aqueles que cedo não se identificavam pessoas amigas.
Aquela região tornou-se o pavor dos pacíficos transeuntes, ali forçados a passar para o atendimento das frequentes atividades da vida do campo, à qual se dedicavam. Assim passaram os anos de 1938 a 1844.
Somente depois que Brito Paiva emigou para o Ceará, o grupo de Tamatanduba dispersou-se. Daí, então, resultou a tranquilidade entre os habitantes daquela região, os quais passaram a render homenagem, obediência e respeito, ao nome colérico e impulsivo, atrabiliário e desumano brigadeiro de Cunhaú.

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OS ÚLTIMOS DIAS DO BRIGADEIRO

(.........) Por volta de 1856, frei Serafim de Catânia pregava missõs naquelas paragens. O frade procurou Arcoverde. O Brigadeiro, o terrível Brigadeiro, rendeu-se ao frade que usava armas das quais a ninguém é dado ter conhecimento. Qunado frei Serafim deixou Cunhaú, Dendé rompeu com todos os seus hábitos e preparou-se para morrer. Dispensou todo o séquito de homens em armas, mandou as mulheres(*) para a Baía Formosa com seus filhos. Em 12 de março de 1856, ditou o seu testamento, e  entregou ao senhor Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, a quem nomeou testamenteiro e tutor de seus filhos menores.
Em 1856, o Rio Grande do Norte passou a ser governado pelo doutor Bernardo Machado da Costa Dória, magistrado, enérgico, sisudo. Mandou recolher à prisão vários criminosos que se encontravam soltos, homens fora da lei que permanecia à vista das autoridades sem que os pudessem prender.
A diligência mais importante era a de prender o Brigadeiro Arcoverde, em Cunhaú, homem poderoso, pertencente a grande família, faustoso, porém acusado de haver assassinado muitos infelizes, inclusive sua própria mulher, um irmão e um filho.
Diz a tradição que uma tropa saiu de Natal, sob o comando do próprio Chefe de Polícia, doutor Luis José de Medeiros. Chegando a Cunhaú à tarde, o doutor Medeiros pediu agasalho, alegando necessidade de oferecer repouso aos soldados a fim de prosseguir viagem até Paraiba.
Os viajantes foram recebidos fidalgamente, como era comum fazê-lo a todos que alí chegavam. O Chefe de Polícia foi hóspede do próprio Brigadeiro, enquanto os soldados ficaram alojados nas residências dos empregados e moradores do engenho. Na manhã seguinte, pretestando fadiga, o Chefe de Polícia não viajou. Visitou o engenho e suas dependências, plantações em companhia de Dendé. Demorou-se alí durante dois dias.
O Brigadeiro compreendeu do que se tratava e, no segundo dia, após a ceia, disse ao Dr. Medeiros: - "Senhor Chefe de Polícia, já não sou o Brigadeiro Arcoverde, sou uma sombra dele. Se o Sr. tivesse vimdo há um ano passado, teria outra recepção, mas eu não sou mais nada. Não posso e não quero resistir. Amanhã pela manhã o senhor me verá". E recolheu-se. Vestiu a farda de gala com dragonas de ouro e ramalhetes enfestonados na casaca, calçou as luvas brancas e bebeu cianureto.
Pela manhã do dia seguinte encontraram-no morto. Era o dia 26 de julho de 1857. Foi sepultado na capela do Cunhaú, junto do altar-mor, na cova em que, vinte e dois anos antes, fora sepultada a sua esposa.
Refere a tradição que à notícia da morte do Brigadeiro dispersaram-se os habitantes das casas do engenho.
Estava cumprida a diligência, extinguindo-se, desse modo tragicamente, a vida do atrabiliário representante da faustosa família Albuquerque Maranhão e, com ela, o poderio de Cunhaú tão retumbante e disseminado durante dezenas de anos.


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NOTA:(*) Dendé Arcoverde viveu, simultaneamente, com três mulheres, tendo tido, com cada uma delas, duas filhas, num total,
portanto, de seis filhas. Todas as filhas foram legitimadas e
beneficiadas em seu testamento.

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Amigos leitores, a próxima postagem terá como título "EMBOSCADA EM PEDRAS DE FOGO"(IN) SAGA DE UMA
FAMÍLIA. Foi na Pariba, a emboscada que atingiu mais uma "infeliz"
vítima de Dendé do Cunhaú : Vicente Ferreira de Paiva, português, que seria meu bisavô paterno...eu nasceria 100
anos depois do crime (1842-1942) e viria, aqui, contar a história....169 após a  fatal emboscada...em  PEDRAS DE FOGO...



Preciso ir agora................................mas eu volto, um abraço!